Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




sexta-feira, 3 de abril de 2009

a imagem das coisas

O velho pintor Wang-Fô e o seu discípulo Ling erravam pelas estradas do reino de Han.

Avançavam devagar, pois Wang-Fô parava de noite para contemplar os astros, de dia, para olhar as libélulas. Iam pouco carregados, pois Wang-Fô amava a imagem das coisas e não as próprias coisas, e nenhum objecto do mundo lhe parecia digno de ser adquirido, excepto pincéis, boiões de laca e de tintas-da-china, rolos de seda e papel de arroz. Eram pobres, pois Wang-Fô trocava as suas pinturas por um caldo de milho miúdo e desprezava as moedas de prata. O seu discípulo Ling, vergado ao peso de um saco cheio de esboços, curvava respeitosamente as costas como se carregasse a abóboda celeste, pois aquele saco, aos olhos de Ling, ia cheio de montanhas sob a neve, de rios pela Primavera e do rosto da Lua no Verão.

Marguerite Yourcenar, A Salvação de Wang-Fô e outros contos orientais, tradução de Gaëtan Martins de Oliveira, p. 13, Publicações D. Quixote, Lisboa, 2002

1 comentário:

Nivaldete disse...

Fiquei comovida com suas palavras... Faltou-me dizer que aquela solidão azul eu vi do Castelo de Monsaraz, aí em Portugal, em 2004... Nunca esqueci...
Bem escolhido o texto de Yourcenar... Ela encena/yourcena divinamente a escrita...
Belo encontro virtual está sendo este nosso...
Grande abraço!