Vladimir Kush

Vladimir KUSH, Ripples on the Ocean, (Ondulações no Oceano)

Rumi

A vela do navio do ser humano é a fé.
Quando há uma vela, o vento pode levá-lo
A um lugar após outro de poder e maravilha.
Sem vela, todas as palavras são ventos.

Jalāl-ad-Dīn Muhammad RUMI




segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Estátua de índio na ilha do Corvo



CARAMURU
CANTO I
LXIII
E quer na nuvem própria, que te indico, Que esse cadáver meu vá transportado, E na Ilha do Corvo, de alto pico O vejam numa ponta colocado; Onde acene ao país do metal rico, Que o ambicioso Europeu vendo indicado, Dará lugar, que ouvida nele seja A doutrina do Céu, e a voz da Igreja.
LXIV
Disse; e cessando a voz, e a visão bela, Viu da nuvem Áureo, que o rodeava, Trasformar-se a bela Alma em clara estrela, E viu que a nuvem sobre o mar voava: O cadáver também sublime nela, Ao cume do grão-pico já chegava; Onde a névoa, que no alto se sublima, Depõe como uma Estátua o corpo em cima.
LXV
Ali batido do nevado vento, De Sol, de gelo, e chuva penetrado, Efeito natural, e não portento É vê-lo, qual se vê, petrificado. Um arco tem por bélico instrumento (15), De pluma um cinto sobre a frente ornado: Outro onde era decente: em cor vermelho, Sem pêlo a barba tem; no aspecto é velho.
LXVI
Voltado estava às partes do Ocidente, Donde o Áureo Brasil mostrava a dedo, Como ensinando a Lusitana Gente, Que ali devia navegar bem cedo: Destino foi do Céu Onipotente, A fim que sem receio, ou torpe medo À piedosa empresa o Povo corra; E que quem morrer nela, alegre morra.
Notas (as notas 11, 12, 13 e 14 não estão assinaladas no texto)
(11) Estátua. — É estimada por prodigiosa a estátua que se vê ainda na ilha do Corvo, uma dos Açores, achada no descobrimento daquela ilha sobre um pico, apontando para a América. Foi achada sem vestígio de que jamais ali habitasse pessoa humana. Devo a um grande do nosso reino, fidalgo eruditíssimo, a espécie de que se conserva uma história desta estátua manuscrita, obra do nosso imortal João de Barros.
(12) Selvagem. — Não supomos único o selvagem, que o padre Anchieta achou em o estado que aqui se descreve. Muitos teólogos se persuadem que Deus por meios extraordinários instruíra a quem vivesse na observância da lei natural.
(13) Tupá. — Os selvagens do Brasil têm expressa noção de Deus na palavra Tupá, que vale entre eles excelência superior, coisa grande que nos domina.
(14) Suspendo. — Até aqui são os limites do lume natural, e como ele somente o alcança a filosofia; porém o remédio de natureza humana, ferida pela culpa, não pode constar-nos senão pela revelação.
(15) Um arco. — As memórias desta estátua concordam em ser o seu trajo desconhecido; toma daqui ocasião o poeta para o representar arbitrariamente.

CARAMURU: POEMA ÉPICO
Frei Santa Rita Durão, 1781

A Wikipédia tem um artigo chamado "Estátua equestre do Corvo". Tem também um artigo chamado "Moedas cirenaicas do Corvo (Açores)" sobre moedas do séc. IV a. C. que ali surgiram no séc. XVIII, cerca de trinta anos antes da publicação do poema "Caramuru" de Frei Santa Rita Durão.
Recentemente o historiador Joaquim Fernandes publicou "O Cavaleiro da ilha do Corvo", um romance histórico sobre o tema.

A Biblioteca Nacional de Portugal disponibiliza a «Chronica do Principe D. Joam» de Damião de Gois em formato digital. A referência à estátua está na página 35, carregar aqui

1 comentário:

QZ disse...

Esse é um tema bastante interessante. É curioso que a ilha do Corvo é a ilha dos Açores que aparece mais cedo nos mapas já com o seu nome actual, mas em italiano.